Na penumbra da Floresta de Thandor, onde nem mesmo a luz da lua ousava pousar por completo, a Princesa Cristal caminhava sozinha. O chamado havia sido silencioso — um sussurro que invadia seus sonhos, noite após noite, ecoando uma única palavra:
“Volte.”
Desde a batalha contra Tharok, Cristal vinha sendo assombrada por visões. Não de inimigos, mas de si mesma… ou de algo que a imitava. O povo falava de uma presença antiga que residia nas sombras daquela floresta, uma lenda esquecida: A Dama do Véu Sombrio, um espírito sem rosto, nascida da dor de uma rainha traída, condenada a vagar eternamente à procura de um corpo para habitar.
Guiada por sua coragem — e talvez por algo mais — Cristal adentrou o bosque envolta em sua armadura dourada, mas sem armas. Sentia que esta batalha não seria vencida com aço ou flechas.
A névoa rastejava entre os galhos como dedos de fantasmas.
E então ela surgiu.
Alta. Silenciosa. Sem rosto.
A criatura parecia moldar-se a partir da própria escuridão, movendo-se sem ruídos, como se fosse um pensamento esquecido. Mesmo sem olhos, Cristal sentia ser observada. Mesmo sem boca, ouvia a voz em sua mente.
“Você tem luz demais...
Mas toda luz, um dia, se curva à sombra.”
Cristal caiu de joelhos. Um frio ancestral percorreu sua espinha. A floresta apertava. Sua visão escurecia.
Foi então que, em um lampejo de lembrança, ela murmurou:
“Sagitário protetor, eu te invoco...”
O brasão de sua armadura brilhou. Uma aura dourada rompeu o véu da escuridão por um breve segundo. A sombra gritou — não em som, mas em presença. Um grito que reverberava dentro da alma.
Com esforço, Cristal ergueu-se em direção a criatura.
“Eu sou Princesa de Sagittaria. E nenhuma escuridão, por mais antiga que seja, apagará minha luz.”
A Dama recuou, dissolvendo-se lentamente na névoa, como se banida por algo mais puro que qualquer feitiço.
Cristal não matou o espírito.
Ela o venceu com fé.
Ao retornar ao castelo, carregava mais do que uma nova cicatriz: trazia a certeza de que as trevas existem — mas a luz da flecha dourada, mesmo quando apagada, vive dentro de quem jamais se curva.
Desde então, dizem que a Dama do Véu ainda ronda a floresta...
Mas que jamais se aproximará novamente da linhagem da Flecha da Luz.